Até a realidade chamar!


No bar ouviam-se músicas cubanas, bebiam-se bebidas coloridas e ouviam-se gargalhadas estridentes.


Mas nem sempre apetece ficar onde tudo acontece.

Encaminhei-me lá para fora. Sentei-me nuns bancos laranja e deixei-me ali estar, a contemplar o mar  picado.

Deixei a Maria e o António a dançar aqueles ritmos calientes e fiquei a ouvir o rebentar das ondas nas rochas durante uma meia hora.

Pelas cinco da tarde levantou-se um vento frio, que me fez querer ter um casaco de lã por perto. Certo é que ele não estava por lá.

Mesmo com pele de galinha não apeteceu abandonar aquela paz.

A natureza é tantas vezes generosa e apaziguadora. Encarrega-se de nos remete-nos à condição que no momento, nos é elementar.

Deixei de ouvir os burburinhos da minha alma, e consegui ouvir Silêncio.....


É quase sempre assim, quando me aproximo do mar, só para o observar.

A Maria, com medo que eu estivesse a começar uma crise existencial, veio-me tirar daquele estado de contemplação e a farra voltou-se a dar.


A experiência havia-se repetido há dias atrás.

A comer uns belos caracóis, ao fim da tarde, numa zona piscatória, num café minado de malta a beber a sua mini, a comer a sua bifana banhada em mostarda e a puxar pela voz, não consegui deixar de me aproximar do que o rio tinha para dar.

Ouvi o Carlos contar que havia levado a mota à oficina e tinha lá deixado o ordenado. Já não ouvi com tanta intensidade o miúdo que gritava pela avó, para voltarem a casa, porque estava com fome, para o jantar.

Contei os tons distintos que a paisagem oferecia, as gaivotas que por ali andavam a pairar, os barcos atracados ao cais....



Novamente se fez Silêncio....

Costumo chamar este estado de "esparvoamento total". Chega a dar vontade de ficar alí a babar..... 

...até a realidade chamar!


Comentários

Mensagens populares