Não gosto de praias vazias



Não gosto de praias vazias, como as que nos vendem as agências de viagens em packs românticos.

Não gosto das espreguiçadeiras altas, distantes da areia e dos toldos chiques que se alugam ao dia.

Gosto de chegar com chapéu para espetar na areia, cesta com mantimentos, água, protetores contra todos os UV que me possam atacar,  e colocar-me estrategicamente entre duas famílias e se possível alguns grupos de adolescentes que estejam ali para ficar.

Eric Fischl portrait

É o pai que vai com os filhos à água, enquanto a mãe põe a leitura em dia, é o puto mais pequeno que dormitava ao lado e repentinamente arranca num brutal ataque de choro, que a impossibilita de passar mais de duas páginas. A canalhada que, ao lado, larga as suas asneiradas e fala de engates.

É o tio chique que lê o jornal de negócios, mas não resiste ao pregão da senhora que vende bolas de berlim carregadas de creme.

É a gordinha que se passeia mais sorridente e feliz pela beira d'água, que a magrela que compõe de cinco em cinco minutos a parte de cima do biquíni e se move estrategicamente, em poses de revista, para que não se note o meio quilo que engordou nos últimos dias.

O homem que se desloca de canadianas pela praia, tão alegre e carinhoso com os amigos do filho, que parece ter a mesma idade e energia deles e nos enternece.

O cheiro contagiante dos protetores solares, os sombreros com publicidade a cervejas e às riscas das mais variadas cores, que nos enchem as vistas.

Os nadadores salvadores jeitosos que espiam os malucos que se aventuram para além do que lhes é permitido. Os ousados que se atiram dos pontões.

Os dois amigos, de abdominais definidos que chegam ao final da tarde para dar só um mergulho, depois de um dia de trabalho no call center. As miúdas de corpos esguios que recebem a primeira aula de surf.


Os pequenos que saem do banho e se enrolam na areia, quais croquetes prontos a ir ao forno e gritam para que os pais vejam a sua importante exibição.

A família de emigrantes franceses que prepara sandes para os filhos, sobrinhos e enteados que, em fase de crescimento, comem sem parar.

O solitário que acabou de se estender aqui ao lado, de toalha na mão e protetor solar.

É impossível, por agora, gostar de praias vazias, porque essas contam tão poucas histórias......

Talvez qualquer dia, as passe a apreciar.

Comentários

  1. Eu também não gosto de praias vazias mas adoro as barracas às riscas :)

    Beijinhos

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