Chove sem parar
Chove há dez dias, consecutivamente.
Não sei se a minha maior irritação é não conseguir secar a roupa dos miúdos ( incluindo a do miúdo grande);
saltar de transporte em transporte até chegar ao emprego, atracada ao chapéu de chuva, completamente repassada;
partir as varetas do chapéu que comprei na loja do chinês, com a primeira rabanada de vento.
Acho que não vou optar. Escolho todas!
E irritar-me com a chuva faz-me sentir culpada.
Que desatino! Afinal, casei num dia de chuva...
E esse, foi sem dúvida alguma, um dia para recordar!
Na véspera regressei propositadamente a casa dos meus pais para cumprir a tradição.
A Sara dormiu por lá...ou melhor, não dormiu, nem me deixou dormir...
Isto de se convidar a melhor amiga para madrinha, tem que se lhe diga...não sossegou com a excitação!
Acordámos já estoiradinhas às sete horas da manhã. Chovia a cântaros....
O meu mano cassula olha lá para fora e manda a piadola:
- Quem te manda casar em Janeiro! E sai por ali fora a zombar.
A Rosa chegou atrasada para me tratar dos cabelos porque ficou presa no trânsito...
O João ligava-me constantemente por causa do primo chato que tinha vindo do norte, que não queria aturar....
Ainda me propôs que fugíssemos para um qualquer paraíso tropical.
E eu estive quase, quase, a aceitar.
A minha mãe choramingava pelos cantos da casa.
Ou era emoção ou medo que bloqueassem estradas e a boda não se realizasse.
E os croquetes, as empadas e os enchidos...os sumos de laranja, as infusões, tudo à espera dos convidados na sala de jantar, que passou a pente fino mais de vinte vezes, sem parar.
Estava possessa e entre dentes vociferava:
- O homem tinha razão! O teu pai tinha razão. Arre que o homem tem sempre razão!
Sei que quando tentámos entrar para o carocha que me havia de levar à igreja, tinha uma fila de chapéus de chuva a ladear-me, para não sujar o vestido, não esborratar a maquilhagem e não me despentear....
Temos fotografias hilariantes das primas a tentarem salvar-me.
Só parou de chover no copo-de-água, lá pelas cinco da tarde.Já era noite escura e estava tudo alegremente alcoolizado....
Nem é preciso dizer que os vestidos das convidadas e o meu rico vestido de noiva estavam ligeiramente enlameados...
Mas foi tudo tão feliz! O meu pai, que não sabe pitada de inglês, foi cantar Frank Sinatra para o Karaoke, como os amigos do João. Foi de fugir, mas de chorar por mais.
E hoje, olho com o Sebastião pela janela, enquanto espero que os miúdos cheguem a casa e pergunto-me....
- Como é que a chuva me pode irritar?
- Deixa isso para lá Maria. Disse em voz baixa, só para ser ouvida pelo meu coração....
- Dias de chuva são do melhor que há.
muito bom! ;)
ResponderEliminarconsigo imaginar cada detalhe....
e afinal, o que são umas gotas de chuva no meio de tanta felicidade!?
nada. são do melhor que há. :)